Cumpridos os primeiros três meses na Casa Branca, Barack Obama continua em estado de graça. Sobre o jovem presidente negro chovem elogios.
Uma máquina de propaganda bem concebida conseguiu que a promoção do sucessor de George Bush adquirisse características inéditas. Não somente assumiu proporções mundiais como a maioria dos epígonos é sincera na apologia do novo herói americano, não se apercebendo de que o coro dos elogios é estimulado por uma engrenagem made in USA.
No auge de uma gigantesca crise de civilização, Obama é apresentado como o sucessor dos pais da Pátria do final do século XVIII, o líder providencial sobre cujos ombros caiu a missão de salvar a humanidade dos perigos que a ameaçam, tarefa que somente o seu país, os EUA, poderá liderar e concluir com êxito.
O quase endeusamento do salvador é acompanhado por uma ofensiva mediática paralela sobre as virtudes do exemplar chefe de família. A esposa e as filhas tornaram-se tema de reportagens apologéticas na TV, na Internet e na grande imprensa. Até o cão das meninas inspirou artigos que correm pelo mundo.
Essa poderosa orquestração promocional empurra o cidadão comum, de Washington a Tóquio, de Brasília ao Cairo para a conclusão de que, afinal, o destino da humanidade depende hoje muito mais da grandeza de um homem excepcional que do quefazer dos povos.
Desmontar essa campanha e chamar à realidade centenas de milhões de pessoas que por ela são confundidas é, creio, um dever dos intelectuais progressistas.
Do mito à realidade
Barack Obama é um homem inteligente, mais honesto e bem intencionado do que a quase totalidade dos presidentes que o precederam.
Acredito que há meia dúzia de anos não lhe passaria pela cabeça a ambição de chegar à Casa Branca. Foram as circunstâncias e o seu grande talento oratório na comunicação com as massas que contribuíram decisivamente para que esse mestiço, filho de um imigrante de Quénia, fosse eleito presidente dos EUA.
Um factor importante pesou na vitória tida por impossível quando nas primárias disputou a candidatura pelo Partido Democrata: a sua experiência como senador proporcionara-lhe um conhecimento aprofundado da sociedade estadunidense e do sentimento de aversão do americano médio pelas engrenagens apodrecidas do Poder, em Washington.
Esses trunfos, muito importantes, não bastam, porem para transformar quase de um dia para outro o ex – senador pelo Illinois num estadista super dotado.
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